sexta-feira, 14 de maio de 2010

O começo

E aqui estou, criando esse blog para colocar aqui tudo que se tem sobre o mundo que eu acho interessante, desde livros a filmes.
Dessa maneira, começo colocando um trecho de um livro que estou começando a ler via e book,"Mentes perigosas - O psicopata mora ao lado",devido as coisas da faculdade estou lendo bem com calma por falta de tempo, mas ainda comprarei o livro, mas assim o farei futuramente, afinal nada melhor que ter um livro em mãos, parece que a pessoa acaba por se focar mais, analisando mais o livro, mas assim seguir um trecho desse livro, espero que gostem;
"Mentes Perigosas - O Psicopata Mora ao Lado"

Qualquer história sobre consciência é relativa à conectividade que existe entre todas as coisas do universo. Por isso, mesmo de forma inconsciente, alegramo-nos frente à natureza gentil dos atos de amor.

CAPÍTULO 1

RAZÃO E SENSIBILIDADE: UM SENTIDO CHAMADO CONSCIÊNCIA

Lembro como se fosse hoje. Fecho os olhos e lá estou eu e meus colegas no anfiteatro principal do Hospital Pedro Ernesto, no Rio de Janeiro. Aquilo que a princípio deveria ser mais uma das palestras do nosso vasto currículo do curso de medicina foi fundamental na minha vida profissional. Era sexta-feira, nove horas da manhã, e eu me encontrava sonolenta e exausta, em função do plantão que havia feito na noite anterior. Confesso que por uns dez a 15 minutos quase rezei para que o palestrante faltasse ao seu compromisso. Dessa forma, poderia ir para casa, tomar um belo banho e dormir o sono dos justos
sem nenhuma pontinha de culpa.
Por volta de 9h15, um homem franzino e muito branco, que trajava uma calça jeans e um discreto blusão azul, adentrou o auditório repleto de alunos, subiu no tablado e desenhou na lousa o seguinte gráfico:

Em tom provocador e entusiasmado, ele entonou em voz firme e forte a seguinte questão: “O que é consciência?”
Ainda sob o impacto daquela estranha presença, que sequer se apresentou, a turma entreolhava-se de forma discreta na
expectativa de que alguém quebrasse o silêncio constrangedor que inundava o anfiteatro.
Por mais estranho que possa parecer, aquele silêncio me despertou, ou melhor, toda aquela situação me intrigou de alguma
forma. Senti-me desafiada pelo questionamento que aquele homem havia jogado no ar!
Rapidamente ajeitei-me na cadeira, esfreguei os olhos e impulsivamente disparei: “Bom dia, mestre, sou estudante do terceiro ano desta faculdade (UERJ) e gostaria de saber o seu nome, a sua especialidade e uma pequena explicação sobre o gráfico na lousa.”
Por uma fração de segundos percebi que tinha sido ligeiramente indelicada e também desafiadora. Quando deparei com o professor à minha frente, pude observar certo bom humor em sua fisionomia, o que foi confirmado por suas palavras: “Bom dia a todos os acadêmicos aqui presentes! Meu nome é Osvaldo e sou médico psiquiatra, professor assistente da cadeira de psiquiatria desta faculdade.”
Sem pestanejar, o professor Osvaldo, dirigindo-se a mim, fez valer a lei da ação e reação: “Vejo que você está muito interessada no tema de hoje. Então vamos iniciar nossa aula com a sua descrição sobre a consciência.”
Naquele momento percebi que o ditado “quem está na chuva é pra se molhar” era inteiramente verdadeiro e, sem possibilidades de fuga, falei: “Professor, quando ouço a palavra consciência dois sentimentos me vêm à cabeça: um de ordem prática, ou seja, se estou acordada ou não; e outro de ordem subjetiva, que me remete ao fato de eu ter consciência de quem eu sou e qual o meu papel no mundo.”
Com um sorriso de aprovação nos lábios, o professor continuou:“Em parte você já explicou o gráfico aqui colocado. De certa
forma, seu ponto de vista está correto. Mas vamos nos aprofundar um pouco mais nessas questões.”
Apontando para o desenho na lousa, ele prosseguiu:
“ESTAR consciente é fazer uso da razão ou da capacidade de raciocinar e de processar os fatos que vivenciamos. ESTAR consciente é ser capaz de pensar e ter ciência das nossas ações físicas e mentais. Na clínica médica, podemos averiguar o estado de alerta ou lucidez que uma pessoa apresenta num determinado momento. Assim, podemos perceber num exame clínico o estado ou nível de consciência, no qual podemos encontrar as seguintes palavras: lúcido, vigil, hipovigil, hipervigil, confuso, coma profundo etc. Todas elas atestam o nível de percepção que temos em relação ao mundo.
“Alguém que utilize certas doses de álcool, por exemplo, pode apresentar o seu nível de consciência reduzido (hipovigil) ou
até mesmo atingir o estado de coma. De forma inversa, as anfetaminas (estimulantes) — muito utilizadas em dietas de emagrecimento — costumam fazer o cérebro trabalhar mais depressa, deixando as pessoas mais ‘acesas’, mais ‘elétricas’, com a fala rápida, e podem provocar insônia e muita irritabilidade. Esse estado é conhecido como hipervigilância.”
Finalmente alguém falava de forma clara como deveríamos iniciar um exame clínico dos nossos futuros pacientes. Entusiasmados e atentos às explicações do professor, fizemos inúmeras perguntas sobre acidentes automobilísticos, traumatismos cranianos, substâncias tóxicas e tantas outras situações que podem alterar nossos níveis de consciência.
A segunda parte da aula não se tratava mais de identificar o estado ou nível de consciência de alguém, mas sim de algo muito
mais complexo. Agora a questão era “SER ou não SER”.
“SER consciente não é um estado momentâneo em nossa existência, como falamos anteriormente. SER consciente refere-se
à nossa maneira de existir no mundo. Está relacionado à forma como conduzimos nossas vidas e, especialmente, às ligações
emocionais que estabelecemos com as pessoas e as coisas no nosso dia-a-dia. Ser dotado de consciência é ser capaz de amar!”, concluiu o professor.
Ao soar o sinal, a maioria da turma se levantou, esvaziando o anfiteatro. Por alguns minutos, fiquei ali pensativa como se algo tivesse me atingido de forma estranha e paralisante. Vi o professor Osvaldo saindo; de longe fez um gesto discreto de despedida que, sem querer, não consegui responder. Na minha mente duas palavras ecoavam estridentes: consciência e amor! Não sabia explicar o porquê, mas naquele momento fui tomada por duas inquestionáveis certezas: eu estava lúcida (vigil) e experimentava uma emoção maravilhosa e transcendente de ser uma pessoa consciente.
De lá para cá, muitos anos se passaram, mas aquela aula — em especial a sua parte final — foi decisiva na minha vida. A
partir daquele dia, exercer a psiquiatria passou a ser parte inseparável da minha existência. Eu tinha a consciência de que a minha profissão seria um canal por onde emoções muito boas transitariam por toda a vida.

Ser consciente é ser capaz de amar

Como visto na aula do professor Osvaldo, o termo consciência é ambíguo, sugerindo dois significados totalmente distintos. E
por isso mesmo, é compreensível que a esta altura o leitor esteja confuso. Na realidade, a consciência é um atributo que transita entre a razão e a sensibilidade. Popularmente falando, entre a “cabeça” e o “coração”.
Falar sobre consciência pode ser uma tarefa “fácil” e “difícil” ao mesmo tempo. O “fácil” são as explicações científicas sobre o
desenvolvimento da consciência no cérebro, que envolvem engrenagens como atenção, memória, circuitos neuronais e estruturas cerebrais, que só serviriam para confundir um pouco mais. Nada disso vem ao caso agora, pelo menos não é esse o meu propósito. Portanto, esqueça! Aqui, vou considerar o lado “difícil”, subjetivo e relativo ao sentido ético da existência humana: o SER consciente.
Mostrar apreço às condutas louváveis, ser bondoso ou educado, ter um comportamento exemplar e cauteloso, preocupar-se
com o que os outros pensam a nosso respeito nem de longe pode ser definido como consciência de fato. Afinal, a consciência não é um comportamento em si, nem mesmo é algo que possamos fazer ou pensar. A consciência é algo que sentimos. Ela existe, antes de tudo, no campo da afeição ou dos afetos. Mais do que uma função comportamental ou intelectual a consciência pode ser definida como uma emoção."

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